Porto de Salvador é sinônimo de desenvolvimento econômico

Por: Paulo Villa

Em recente palestra, o vice-prefeito Bruno Reis anunciou que os galpões 3 e 4 da Codeba, no Porto de Salvador, seriam transformados em espaço de convivência, com restaurantes e áreas de lazer, semelhante ao Mercado da Ribeira, em Lisboa. Nesse caso, convém ressaltar que Lisboa não abriu mão de suas atividades portuárias e é um dos melhores exemplos de convivência porto-cidade. Ao longo de sua costa, com mais de 10 km de extensão, estão instalados vários terminais de contêineres e diversas outras empresas vinculadas à cadeia logística de operações portuárias dentro da cidade, em uma harmoniosa convivência com habitantes e turistas. Outros portos, como os de Nova York, São Francisco, Barcelona e Buenos Aires buscaram fora da atividade portuária a remuneração de áreas e instalação obsoletas e sem receitas, o que não acontece em Salvador, onde já foi reduzida a capacidade de armazéns, desativando áreas que prestavam importantes serviços. Propor a transformação de armazéns do Porto de Salvador em área de lazer pressupõe desconhecimento da economia da capital e do estado. Os armazéns estão abarrotados de cargas e para desativá-los, obrigatoriamente, teria que antes ser implantado um novo porto com características iguais ou superiores às que são oferecidas atualmente. Os armazéns 3 e 4, objetos de desejo da prefeitura, são os mais utilizados pelo conjunto de facilidades que oferecem- cais mais profundo e largo- adequado para a maioria das operações de carga geral solta e cargas a granel. A proposta de desativação desses armazéns gera imediata insegurança a investidores, uma vez que impõe prejuízos incalculáveis para as empresas baianas usuárias do porto, além de potencializar o mais nefasto dos problemas socioeconômicos de Salvador e da Bahia: o desemprego. Em efeito dominó, podem vir o fechamento ou relocação de indústrias e transferência de operadores logísticos para outras cidades e estados. Vale destacar que o Porto de Salvador é potencialmente um dos melhores do mundo, pela sua fácil, barata e rápida acessibilidade, boa profundidade e excelente clima, fatores que se constituem em vantagens quando comparado com qualquer outro porto brasileiro. Trata-se de uma “mina de ouro” que muitos baianos ainda não descobriram, capaz de turbinar a combalida economia de Salvador. Por outro lado, o conjunto de obras de engenharia, um ativo avaliado em mais de US$2 bilhões, infraestrutura composta de 2,4 km de quebra-mares, 2 km de cais, profundidade de até 15 metros, mais de 30 hectares de retroáreas com diversas instalações operacionais em pleno funcionamento, incluindo os armazéns, não deve ser desativado em hipótese alguma; pelo contrário, deve ser expandido, semelhante ao bem sucedido modelo de Lisboa, de modo a agregar valor, riquezas, negócios e gerar os tão necessários empregos na capital. Também deve se considerar que o porto ocupa apenas 2 km em um município com mais de 50 km de costa marítima, que necessita ser valorizada para benefício de toda a população e do turismo. Centros de cultura, lazer e gastronomia poderiam ser instalados em Itapuã, Pituba, Ribeira, Monte Serrat, Plataforma ou Periperi, requalificando nossa orla marítima. Possuir um porto como o de Salvador é um privilégio para a Bahia. Convidamos o vice-prefeito a estabelecer um diálogo construtivo em favor da cidade e do estado.

*Paulo Villa é engenheiro civil e diretor-executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia – Usuport.
09/12/2019